Recordações & Sofrimento

O tempo passa e marca disso são as rugas que nos vão surgindo. As mãos com calos, a pele mais escura das várias horas que, diariamente, estão expostas ao sol e as pernas que chegam ao fim do dia doridas com mais frequência são sinais de trabalho e cansaço acumulado ao longo dos tempos. Falo como se fosse velha. Não o sou, irei ser. Sentar-me-ei numa cadeira a beber chá com as amigas de infância/adolescência e será uma risota ou uma choradeira pegada à custa das memórias que todas temos do tempo em que éramos umas crianças/adolescentes com a mania que tínhamos problemas tal como os adultos.

Por outro lado, lembrar-me-ei, nessa altura, de momentos que nunca partilhei com elas. Talvez me venha uma lágrima ao olho esquerdo (porque o direito é menos chorão) e fingirei que não se passa nada. Hoje, imagino que se lhes contar uma paixoneta comum de jovens, serei alvo de riso e brincadeiras que me magoarão. Não é o facto de se rirem que me magoará, é o facto de não ter feito nada neste momento para que a história do futuro fosse diferente, é o facto de existirem recordações que deveriam ter-se apagado e não se apagarão. São especulações o que estou para aqui a fazer sem sentido algum. 

Certo é que todos tentamos queimar, eliminar, apagar, remover, esquecer momentos com quem nos fez sofrer mas isso não acontece. Temos as boas memórias na nossa fabulosa caixa dos segredos que é partilhada com muito boa gente e as más memórias prestes a irem para a reciclagem que está cheia e não aceita ser esvaziada. Por vezes, é doloroso mas se repararmos bem foram esses maus momentos que nos fizeram crescer e que influenciaram e continuarão a influenciar as nossas atitudes. Passamos a saber o que é certo fazer aos outros e o que está errado. Ou então passamos a ser pessoas com fome de vingança que faz o que lhe fizeram a quem se atravessa no seu caminho. 

Recordo-me de muitas situações desagradáveis, que me fizeram chorar, gritar e querer magoar. Não sou rancorosa e, muito menos, vingativa. No entanto, o que mais vejo, infelizmente, à minha volta são pessoas magoadas pelos caminhos difíceis da vida, sem qualquer objectivo definido a não ser fazer mal aos outros para que, tal como elas, sofram!

M.