"No teu poema existe um verso em branco e sem medida, um corpo que respira, um céu aberto, janela debruçada para a vida. No teu poema existe a dor calada lá no fundo, o passo da coragem em casa escura e, aberta, uma varanda para o mundo. Existe a noite, o riso e a voz refeita à luz do dia (...) E o cansaço, do corpo que adormece em cama fria. Existe um rio, a sina de quem nasce fraco ou forte, o risco, a raiva e a luta de quem cai, ou que resiste, que vence ou adormece antes da morte. No teu poema existe o grito e o eco da metralha, a dor que sei de cor mas não recito, e os sonos inquietos de quem falha. (...) Existe um rio, um canto em vozes juntas, vozes certas, canção de uma só letra e um só destino a embarcar, no cais da nova nau das descobertas. Existe um rio, a sina de quem nasce fraco ou forte, o risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste, que vence ou adormece antes da morte. No teu poema existe a esperança acesa atrás do muro, existe tudo o mais que ainda escapa e um verso em branco à espera de futuro."
Carlos do Carmo
M.
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