Por vezes quando estou a andar na rua, geralmente porque vou para algum lado, tenho sempre destino, penso muitas vezes em várias coisas, de coisas do amor até ao "será que tenho tudo?". Gosto de pensar, gosto ainda mais de imaginar, imaginar situações que podem acontecer na presença de alguém e que eu desejo que aconteçam tal e qual como eu as imagino. Gosto fundamentalmente disso, de imaginar uma realidade diferente. Às vezes as coisas não acontecem da forma como eu quero, às vezes as coisas não aparecem quando deviam de aparecer e às vezes não sinto como devia sentir. Nesses momentos, em que caminho pelo alcatrão da estrada, sujo e gasto pela passagem constante dos carros, tenho os meus pensamentos, às vezes penso tão alto que penso até, que as pessoas que passam por mim na rua ouvem os meus pensamentos. É estranho eu achar isto, mas é uma verdade, e no fundo sei que algumas dessas pessoas pensam exactamente como eu e, é por isso que eu julgo que elas me ouvem a pensar.
Há palavras que são gastas demais e, outras que são tão programadas na maneira de as dizermos que acabamos por não as dizer, e isso implica o pensamento. O facto de fazermos isso implica pensar nelas, palavras, várias vezes ao dia, para que as consigamos interpretar melhor. Eu gosto de palavras. Utilizo-as tanto e das mais fortes que às vezes consigo quase expressar realmente o que sinto, mas é difícil. Porque falar todos nós falamos, sentir, só os que conseguem pensar sem usar as palavras.
Gostava de um dia poder andar pelo alcatrão da estrada, sujo e gasto pela passagem constante dos carros e lembrar daquilo que pensei sem usar palavras, e, mais ainda daquilo que pensei com palavras. Aquele alcatrão da estrada talvez não esteja sujo e gasto só da passagem dos carros, mas talvez das pessoas que passam incessantemente a pensar no seu rumo, nas suas vidas, nos seus amores e os suspiros e palavras que já ali deixaram e que ainda não foram lá buscá-los, mesmo passando diariamente no alcatrão da estrada sujo e gasto.
P.
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