A nossa linha está construída.
Somos um comboio com um horário apertado que diariamente atravessa várias passagens de nível. Umas sem pensar, outras após uma paragem. Embarcam aqui mil e uma coisas através das cinco janelas que temos, os cinco sentidos. Todas essas coisas têm um destino, o nosso mapa, o nosso guia - o cérebro. Capaz como ele é, selecciona a estação de saída de cada uma. Há as que saem na estação ou apeadeiro seguinte, outras que seguem viagem até um destino mais longínquo. Ainda ficam a faltar uma parte dessas mil e uma coisas, a parte que inclui as que se mantém em nós até chegarmos ao fim da nossa linha.
É de salientar que nem tudo o que em nós embarca é verdadeiro. Há uma fiscalização apertada pois os "picas" sabem que muitos dos recém-chegados são interpretações traiçoeiras de uma realidade que não compra bilhete mas que gosta de ser viajante.
Com a adição de carruagens ao comboio, apercebo-me que apesar de ser mais fácil remover os intrusos, é também mais fácil para eles marcarem-nos. Sou o motor e, como tal, estou na frente e levo o meu tempo a chegar à última carruagem. Quando lá chego, os estragos estão feitos. Errei, entrou no meu comboio quem não deveria ter entrado. Passou na fiscalização como quem passa por entre as gotas da chuva e agora deixou marcas que levaram tempo indeterminado a sair.
M.
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